Discurso de Cícero em defesa de seu mestre Archias
Archias era de Antioquia, na Síria. Interessado em cultivar o espírito, viajou pelos grandes centros culturais da Ásia Menor. No ano de102 a.C., Archias chegou à Roma.
Chegando à Capital do Império, Archias tornou-se mestre de Cícero e travou relações de amizade com famílias de grande influência. Por meio desta influência, Archias tornou-se cidadão de Heracléia, uma cidade aliada de Roma.
No ano89 a.C., treze anos depois da chegada de Archias, promulgou-se a lei Plaucia-Papíria que estendia o direito de cidadania aos moradores das cidades aliadas. As condições para obter a cidadania eram as seguintes: o requerente, à data da lei, deveria ter fixado domicílio na Itália e, no prazo de sessenta dias, apresentar a sua declaração perante o pretor. Archias que preenchia essas condições, tornou-se cidadão romano.
No ano de65 a.C. surgiu em Roma uma nova lei – a Lei Pápia – que mandava expulsar de Roma todos os estrangeiros. Inimigos de Archias aproveitando-se desta lei, acusaram o retórico de estrangeiro e exigiram a sua expulsão da cidade.
Marcus Tullius Cicerus, o maior orador romano daquela época, e discípulo de Archias, foi convocado para defender a causa de seu mestre perante o tribunal.
Vejamos o modo como ele começa Pro Archia.
“Juízes, se algum talento em mim existe, cuja exigüidade conheço bem; se possuo certa experiência da arte da palavra em que ouso dizer-me versado, embora modestamente; ou se vedes em mim qualquer aptidão nesta matéria, provinda do estudo e da aplicação às belas-artes, que tenho cultivado em toda a minha vida; caberiam a Licíno, por justiça, os louros da minha vitória.
Com efeito, transportando o meu pensamento aos louvores da infância e percorrendo, em seguida, toda a minha existência, vejo que ele tem sido sempre o meu primeiro e melhor guia não somente para empreender, mas também para continuar estes estudos.
Portanto, se esta voz animada por suas exortações e modulada por seus ensinamentos, já que salvou a muitos cidadãos, é a ele, de quem recebi esses preciosos meios, que devo agora socorrer e salvar.
E, para que ninguém se admire, ouvindo-me falar nesses termos a respeito de um poeta e não de um orador, direi que eu mesmo não me tenho dedicado exclusivamente à eloqüência.
Todas as artes que têm por objetivo a cultura do espírito possuem vínculo comum e estão relacionadas entre si por uma espécie de parentesco.”
(Pro Archia. Tradução de M. A. Gonçalves)
Publicado em 2 de maio de 2012, em A Bodega, Mundo. Adicione o link aos favoritos. Deixe um comentário.
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